Thursday, June 28, 2007

(last night)

- Martinha, se tiver um pesadelo vem acordar a Mãe, tá bem? Não tenha medo ou vergonha por ser o meio da noite. A mãe está sempre aqui.

(Sensivelmente) 15 anos depois.. a regra mantém-se. Algum distúrbio nocturno - sonhos maus, dores de barriga - leva a menina pequenina assustada a a cordar a Mãe com um pedido de ajuda envergonhado.
OCD: Assim que uma regra é interiorizada, a obrigatoriedade é irreversível. Infantil ou não.
Equação cerebral: Prazer = Egoísmo. Solução? Castigo.
11 anos. Pré-adolescência. Pai adúltero. Raiva silenciosa. «Jura eterna» ganha um novo significado. Jurei que nunca seria egoísta como ele. Nunca prioritarizaria os meus desejos. Uma promessa é uma promessa. Destined (doomed?) to a life without pleasure. Pelo menos não sem culpa. A diversão provoca a compulsão alimentar que provoca o sofrimento que provoca o desespero que.. que cansa.
Uma festa, uma paixão, uma satisfação pessoal, qualquer acontecimento que se assemelhe a um momento "feliz" despoleta a auto-punição. Uma criança convencida de que não merece viver a sua vida regida pelas suas vontades, sem a possibilidade de contrariar uma regra imposta por si mesma. Diagnóstico efectuado. Beco sem saída. Não há remédios que curem, mal ajudam.
A relação amor-odío com a comida e o corpo é um esconderijo inteligente. (+1kg=-1dia) HA. Demasiado optimista.
As "regras" são inúmeras. Quem disse que não se podia amar uma pessoa gorda? Fui eu? O Pai? Não me lembro. Mas acredito plenamente, simultaneamente reconhecendo o absurdo deste raciocínio ilógico. Qualquer ciclo vicioso leva-nos à exaustão. Não quero aguentar mais. (it just keeps getting worse) Não quero recomeçar. (Re)resolver recorrentemente a frustração que resulta da compulsividade incontrolável.
Porque é que não posso fazer outra promessa agora? Simplicidade. Normalidade. A quem é que suplico eternamente? Não a Deus. Se Deus só nos dá fardos que podemos suportar então enganou-Se. Mas Deus é perfeito - sem margem de erro. Então Ele desistiu de mim. Não me quis. Não interessa. Perdi-O. Não vale de nada pedir ajuda. Não existe ajuda possível.
Vejo-me privada de tudo. Tudo. Cada vez mais.
Não sonho mais com paixões e relações saudáveis e objectivos cumpridos.
It has to be just so. A realidade tem de corresponder à fantasia. Not gonna happen.
Posso imaginar que seria perfeito - tu e eu - mas mesmo que me visses a tua tentativa seria o fim da minha.
Phsychiatric breakthrough: I can't experience happiness without subsequent pain because of a childhood promise noone heard but myself. How do you undo a promise to yourself? You don't.
I don't.

Saturday, June 16, 2007

Sick of being the pseudo-ugly duckling.

«O drama, quanto a mim reside inteiramente na consciência que eu tenho, que cada um de nós tem de ser "um", quando afinal somos "cem", somos "mil", somos "tantas vezes um", quantas as possibilidades que há em nós..»

Podia esforçar-me para identificar essas diferentes "possibilidades" que há em mim. Assim - abrupta e vagamente - ocorrem-me umas três. Não as posso considerar heterónimos, pois, em toda a verdade, não seria capaz de distinguir o ortónimo.
É essa a minha sina. (Sobre)viver mutando-me continuamente - como se despisse uma pele em troca de outra - entre as personalidades divergentes que me integram.
Podia dar-lhes nomes, só por brincadeira, ou então porque todos os seres (imaginários ou não) merecem um qualquer protótipo de identidade. É mais difícil do que parece. A minha tentativa aqui não é um plágio estrutural Pessoano. Pessoa descobriu em si personagens de tal forma incoerentes com a sua própria existência que necessitava despersonalizar-se para "libertar" o sensacionismo, a ataraxia, o decadentismo.. Eu não poderia baptizar as alternativas ao meu ser sem que levassem um pedaço de mim (tão pouco sei qual sou eu para cirurgicamente transplantar tal substância). Uma letra?
Duas mulheres. Uma criança - menina. Alguns embriões de androginia, recalcamento, autismo..

Estive a tentar distinguir as minhas pessoas dentro de mim. O ponto em que uma acaba e a outra começa transforma-se numa vírgula e os adjectivos desfocam-se no papel enquanto sinto uma qualquer polaridade apoderar-se de mim e deturpar o meu processo criativo. Já não sou eu que escrevo. Pelo menos não o eu de há pouco.

Há em mim uma serenidade farmacológica
Uma inquietude neurasténica de insatisfação crónica
O devastar de todo o zelo em um único ensejo
De lágrimas histéricas ao esgotado bocejo


Experimento a poesia para fugir ao trabalho que tinha em mãos. Que volte o outro ser! Que sei eu desta tentativa malograda de justificar o anseio pelo Fim?! Não me diz respeito a "força", não procuro intrinsecamente sair de mim, de ti, de um ele que me/te prende. Não sou mais que a tragédia - o PATHOS eterno, imortal, que corta como uma navalha curiosa que derrama o sangue virgem de uma pele estancada.

[Quero passar horas assim. Deitada na cama, escrevo e risco e risco e escrevo. O amontoado de folhas que cresce em meu redor envolve-me, assalta-me, afoga-me, agride-me, sufoca-me - perco a respiração para as palavras - dissolvo-me em celulose, pasta de papel - biodegradável, termo.]

Sinto-me fora de mim própria. Fragmentarizada? Talvez o que procuro é a crítica intervencionista de Brecht. Não lês? Não vês? Não ouves? É a minha contribuição. Egoísta. Não me interessa a crítica se não for favorável. Sinceridade severa. Não é contigo que estou frustrada mas também. Porque é que não gostas de mim?

«(...)o gosto do irracional e a vocação racionalizadora; o espírito de revolta e a nostalgia da tradição; a fome do absoluto e a consciência do relativo, o impulso gregário, para se sentir em uníssono - no espaço ou no tempo - com os obreiros das grandes empresas humanas, e o dolorido sentimento de uma solidão essencial, permanente, irrevogável, como uma sentença de prisão perpétua dentro do cárcere da própria alma (...)».

Uma outra faceta afirma-se. O que é exactamente o poder de sedução? Existe mesmo? Perguntas, perguntas. Canso-me do mal recorrente e consistente que provoco a mim mesma. Quero manter a sensação de aproximar a cadeira à mesa e rir-me com gosto. Não perdura. Porque é que não tenho interesse se sou interessante? Esta é a esquina que mais me intimida. Antes bucólica ou suicida. Adolescente? Por favor não.

Ask me to dance and get it over with.

Thursday, June 14, 2007

Last request

Quinta-feira, 14 de junho de 2007. 15h04m. 120 horas e 26 minutos. Menos 40 horas de sono. Arredondamento. 80 horas acordada. 15 horas de estudar português. 5 horas de refeições. 5 horas de ginásio. 2 horas de olhar para o vazio. 3 horas de (re)revisões. Recapitular. 50 horas. 1 hora de psicanálise. 1 hora de arranjar as unhas. 48 horas. 8 horas de Maria. 1 hora de missa. 2 horas de exame de Português. 6 horas de tempo solto. 2 horas de deslocações. 4 horas de telefonemas. 1 hora e meia de banhos. 1 hora e meia de Internet. 4 horas de mimos maternais. 1 hora de cigarros. 2 horas de diálogos fraternos. 2 horas de choro. 3 horas de televisão. 5 horas de contemplação de s&*#@%?o. Contagem. 11 horas. 3 horas de música. 2 horas de tentar adormecer. 1 hora de tarefas domésticas. 1 hora de entreter pensamentos úteis. 1 hora de entreter pensamentos inúteis. 3 horas de alimentar o meu «crush on you». 26 minutos a escrever este post.

Sunday, June 03, 2007

medically induced coma please..

«it's not for you, it's for them.»

Se eu fosse escrever aqui aquilo que sinto neste momento.. Melhor guardar para dentro. Nobody wants to see the naked old lady. Pode ser que o volume exceda o espaço e eu exploda em milhões de fragmentos da pedra de que sou feita.