Saturday, June 16, 2007

Sick of being the pseudo-ugly duckling.

«O drama, quanto a mim reside inteiramente na consciência que eu tenho, que cada um de nós tem de ser "um", quando afinal somos "cem", somos "mil", somos "tantas vezes um", quantas as possibilidades que há em nós..»

Podia esforçar-me para identificar essas diferentes "possibilidades" que há em mim. Assim - abrupta e vagamente - ocorrem-me umas três. Não as posso considerar heterónimos, pois, em toda a verdade, não seria capaz de distinguir o ortónimo.
É essa a minha sina. (Sobre)viver mutando-me continuamente - como se despisse uma pele em troca de outra - entre as personalidades divergentes que me integram.
Podia dar-lhes nomes, só por brincadeira, ou então porque todos os seres (imaginários ou não) merecem um qualquer protótipo de identidade. É mais difícil do que parece. A minha tentativa aqui não é um plágio estrutural Pessoano. Pessoa descobriu em si personagens de tal forma incoerentes com a sua própria existência que necessitava despersonalizar-se para "libertar" o sensacionismo, a ataraxia, o decadentismo.. Eu não poderia baptizar as alternativas ao meu ser sem que levassem um pedaço de mim (tão pouco sei qual sou eu para cirurgicamente transplantar tal substância). Uma letra?
Duas mulheres. Uma criança - menina. Alguns embriões de androginia, recalcamento, autismo..

Estive a tentar distinguir as minhas pessoas dentro de mim. O ponto em que uma acaba e a outra começa transforma-se numa vírgula e os adjectivos desfocam-se no papel enquanto sinto uma qualquer polaridade apoderar-se de mim e deturpar o meu processo criativo. Já não sou eu que escrevo. Pelo menos não o eu de há pouco.

Há em mim uma serenidade farmacológica
Uma inquietude neurasténica de insatisfação crónica
O devastar de todo o zelo em um único ensejo
De lágrimas histéricas ao esgotado bocejo


Experimento a poesia para fugir ao trabalho que tinha em mãos. Que volte o outro ser! Que sei eu desta tentativa malograda de justificar o anseio pelo Fim?! Não me diz respeito a "força", não procuro intrinsecamente sair de mim, de ti, de um ele que me/te prende. Não sou mais que a tragédia - o PATHOS eterno, imortal, que corta como uma navalha curiosa que derrama o sangue virgem de uma pele estancada.

[Quero passar horas assim. Deitada na cama, escrevo e risco e risco e escrevo. O amontoado de folhas que cresce em meu redor envolve-me, assalta-me, afoga-me, agride-me, sufoca-me - perco a respiração para as palavras - dissolvo-me em celulose, pasta de papel - biodegradável, termo.]

Sinto-me fora de mim própria. Fragmentarizada? Talvez o que procuro é a crítica intervencionista de Brecht. Não lês? Não vês? Não ouves? É a minha contribuição. Egoísta. Não me interessa a crítica se não for favorável. Sinceridade severa. Não é contigo que estou frustrada mas também. Porque é que não gostas de mim?

«(...)o gosto do irracional e a vocação racionalizadora; o espírito de revolta e a nostalgia da tradição; a fome do absoluto e a consciência do relativo, o impulso gregário, para se sentir em uníssono - no espaço ou no tempo - com os obreiros das grandes empresas humanas, e o dolorido sentimento de uma solidão essencial, permanente, irrevogável, como uma sentença de prisão perpétua dentro do cárcere da própria alma (...)».

Uma outra faceta afirma-se. O que é exactamente o poder de sedução? Existe mesmo? Perguntas, perguntas. Canso-me do mal recorrente e consistente que provoco a mim mesma. Quero manter a sensação de aproximar a cadeira à mesa e rir-me com gosto. Não perdura. Porque é que não tenho interesse se sou interessante? Esta é a esquina que mais me intimida. Antes bucólica ou suicida. Adolescente? Por favor não.

Ask me to dance and get it over with.

2 Comments:

Blogger zaok said...

may i have the honour ? *

damn you, you know how to put thoughts into words !

3:06 AM  
Blogger CP said...

É claro que o problema, na realidade, nunca somos nós mas sim os outros que nos "obrigam" a formar uma espécie de coerência existencial.

6:55 AM  

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