Wednesday, May 30, 2007
its so hard
Hoje fiz uma lista mental das pessoas a quem escreveria cartas a explicar porque tinha decidido acabar com a minha vida. Também fui adiantando o conteúdo de algumas delas. Descobri que é mais fácil suportar a realidade de que sobrevivo sempre se imaginar que um dia desisto, e sou eu que o controlo. Não costumo ser tão directa. A (minha?) vida não presta neste momento. Nem na maioria dos momentos anteriores e provavelmente nos momentos futuros. Esqueço-me da minha façeta "boa" de tal maneira que duvido se alguma vez existiu e perco a motivação para continuar a tentar. Uma mentora de medicina tradicional chinesa disse-me que só existia o presente. Tive vontade de lhe dizer que se, por acaso, acreditasse nessas merdas, ela seria directamente responsável pelo meu suicídio. A única - imitação rasca comprada na loja dos trezentos - esperança que ainda me resta é a de que exista um futuro em que eu não seja vítima de todas as calamidades que absorvo como penitência por um pecado que ainda não decifrei. Eu e o meu psiquiatra concluímos que eu tenho um qualquer complexo de ser realmente má, de ter feito algo tão absolutamente imperdoável que sofro o castigo das minhas acções e que mereço o transtorno permanente em que vivo. Depois deste resumo, temperado com um pouco de ironia para não assustar os mais fracos de espírito, não é muito difícil perceber porque é que me comporto desta maneira, acho. Esta maneira, que varia de pessoa para pessoa, que oscila entre graus de intensidade, mas que essencialmente retrata um sufocado pedido de ajuda que sabe não poder ser socorrido. Infelizmente, todas as palavras do mundo são inuteís à minha salvação. Sou incapaz de ceder a desejos e quereres. Não mereço. O constante conflito mental entre dois pólos opostos discordantes é extenuante. Se ao menos tivesse coragem de fazer uma mala e fugir. Não. Coragem até tenho. O problema é que uma pessoa cronicamente insatisfeita pressupõe achar-se capaz de alcançar tudo, o seu falhanço é mais grave que o dos outros porque se acha superior a eles. Ao mesmo tempo que sinto que já não aguento mais viver dentro de mim, que o meu ódio próprio aumenta diariamente, que a sensação dormente cresce e que nada trespassa a pele, sei que não poderia nunca partir sem antes provar ao mundo inteiro que sou capaz de tudo. Confundo a fantasia com a realidade. A tua vontade com a minha. O que eu quero sou eu que quero ou quero por pensar que me quererás mais se o quiser? Simultaneamente, morro de remorsos por obrigar a minha mãe a viver o que eu sinto como tortura interior, sentir-se impotente e continuar a tentar, tenho pavor da premonição que me assombra de que brevemente ela se fartará de mim e das minhas neuras e no entanto continuo a pedir e a afastar, quero os mimos mas não as palavras. Regressão etária. Começas a ficar irritado por não te mencionar uma única vez? Irritado não, aquilo que tu não consegues explicar. Não, não falei de ti. Mas pensei. Penso sempre. Apaixonei-me por ti no dia em que te conheci e depois reprimi-o, porque tu na altura não eras livre, porque eu nunca o fui. Escolhi o caminho que sabia errado na esperança de, com tempo, voltar ao certo. Cheguei. Agora preciso de me encontrar, de equilibrar os meus distúrbios alimentares (e outros) para recuperar o entusiasmo que sei estar escondido algures. Não sei se te hei-de pedir que fujas ou te suplique que fiques. Devias fugir. Devias ficar. Faz-me acreditar. Ganha-me. Gostava tanto de te poder explicar cada sinapse do meu córtex e ao mesmo tempo já sabes demais. Que dia de merda. Que semana de merda. (You can guess where i'm heading right?). Não me chega querer soluções, sou impaciente, quero de imediato. Isto é tão difícil. São dez da noite e vou-me deitar na plena consciência de que acordar amanhã, como todas as manhãs, vai ser como afogar em águas calmas.